Enquanto durarem nossos estoques

Eu que sempre fui muito mais cigarra que formiga, que sou da rua, da festa, do riso... Eu, que faço do deboche escudo e espada, que sou otimista por não saber outra saída... Eu, acabei por parar na canção do Gilberto: Vamos fugir, baby?

Pra onde, Gilberto? Pra onde?

Mas, fiquemos calmos, nós, eu, você... não vamos morrer de covid-19... alguns até vamos... mas, tem gente que vai morrer mesmo é de fome, morrer porque é fudido e os fudidos, sempre se fodem! Morrerá, claro, uma ou outra criança bem nutrida, um ou outro velho de Higienópolis, algum imbecil da Barra ou estúpido de gravata... canalhas morrerão também... gente fina, elegante e sincera, vai morrer... fiquemos calmos, é blefe que as pandemias são democráticas... e batata: os fudidos sempre se fodem!

Quem for vivendo, de algum modo, vai aprender alguma coisa sobre escassez (espero). Nós, eu, você... não vamos morrer de covid-19... alguns até vamos. Iremos viver enquanto durarem nossos estoques de fé, de vinho, de fumo, de culpa, de raiva, de cinismo... e vamos morrendo de saudade, de pânico, de nóia, de culpa, de raiva, de cinismo...

Eu, tô aqui pensando que... ou chegamos mesmo ao fim daquilo que chamamos de humanidade (hipótese mais coerente) ou nada será como antes e seremos melhores (hipótese necessária).
Portanto, entretanto e no entanto, estaremos aqui: enquanto durarem nossos estoques.

Eu, se morrer, não vai ser de covid-19 (peço que alguém se encarregue de retificar o atestado de óbito)... eu, se morrer, vai ser mesmo é de falta de abraço.

#cronicasdaquarentena #quarentena #alibisealfarrabios #escreverse


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