Da série: Diálogos

DA SÉRIE: diálogos.

- Por que você não pode falar? Tá em reunião?

- Tô, com as minhas vozes.
Não gosto de camas desarrumadas. Minha pele já não aceita mais hidratação.

- Se a psiquiatra ler isso, pode se preocupar...

- Não vejo motivo. Acho muito natural que eu fale alto com meus personagens. Queria exercitá-los na literatura, mas me faltam entendimento, habilidade e disciplina. Por ora, eles têm esse jeito meio espectral mesmo.

- A psiquiatra vai se preocupar!

- Quer o telefone dela?...
Agora posso falar, quer ouvir?....
Vou falar, pois é muito importante!...
Estava aqui na janela, alguma coisa entre Vander Lee e Tom Jobim, pensando que há pessoas que são como um pouso no Santos Dumont...

- Hein? Você voltou a fotografar luas, não é?

- Nunca deixei de ...

- Tá bem... desenvolva...

- Não existe jeito mais bonito de chegar. Especialmente, se você estiver sentada à janela do lado direito (é... sim... esta, e apenas esta, é uma situação em que se admite o lado direito)... Você entra por onde o Cristo não vê, saúda o Maracanã, acena para Santa Teresa, Laranjeiras, Botafogo, vai curvando, inclinando, inclinando e, zombeteira, tira casquinha do Pão de Açúcar... Ali, você entende que o visto tira o ar e o porvir, mais ainda! Até o último instante a dúvida: vai dar tempo de parar? Sempre dá.
E te digo... tem gente que é meio assim: como um pouso no Santos Dumont.

- Humm... entendi .. tem gente que é assim...
A psiquiatra vai ficar preocupada...


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