As árvores que vigio

​Éramos velhas conhecidas
Não havíamos sido apresentadas
Ou havíamos?
Mas não lembrava seu nome

Ainda no primário
    (no meu tempo chamava primário)
no caminho que levava ao ginásio
    (no meu tempo chamava ginásio)
seu cheiro era razão de piada.
Bicho ruim é menino pequeno!

Quando já bicho grande
no caminho do almoço da repartição
    (repartição não é coisa do meu tempo, mas gosto de chamar assim)
e o cheiro...
    (cheiro: aquela catapulta do tempo)
me fazia menina de novo

Desses tempos só chamava pelo nome amendoeira e goiabeira
E no quintal da minha infância
amendoeira virou pinheiro.
Bicho ruim é raiz de amendoeira!
(que minha avó chamava castanheira)

Fiz as pazes com as amendoeiras
quando soube que amava o outono.
Ah, o tapete vermelho da Praça Paris!

Pelos jardins de Burle Marx aprendi um pouco sobre paineiras
Vigio as folhas, os espinhos e claro, as painas
daquelas ali da última curva da Enseada de Botafogo.
Não conheço nada mais bonito que o Aterro do Flamengo!

Também fui aprendendo sobre ipês
e vigiando...
Os roxos do final da Av. Rui Barbosa
vivem disfarçados de nada
Brancos nunca vi por aqui
Amarelos, raridade
de longe, lá no morro da Urca avisto uns

Mas paro por aqui
Felizmente não é de mim que depende a diversidade das sombras cariocas

Nesse verão
do Largo do Machado até o Passeio
Um tapete novo
Não é de ipê, paineira ou amendoreira
Certeza de que eram os abricó​s​-de-macaco
Que desde a infância florescia​m​, fedia​m​
e agora enfeita​vam​
De espesso tapete amarelo
os caminhos do meu dia.
​Mas não!
Parece que a amarelidão vem da ficus religiosa
e suas folhas em formato de coração
Silenciosa
Frondosa
Presente
à minha contemplação.


Fotos A&A: registros com celular imprecisos e espantados. Glória, Rio de Janeiro. Janeiro/2018





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