Ipês são instantes

Estou em fase de derivação
Há quem chame de obsessão
Em minha defesa o argumento lúdico da misturação
O argumento esbarra no fato: a repetição!

a Cisma
a Memória
a Limitação

o Verso da vez
o Filme de 36 poses
o Livro eterno da cabeceira

“vi as éguas da noite”
E nem vi éguas
Vi pirilampos, de certo, reais.
Lá nas bandas do Açude de Ibimirim

“no tempo em que festejava o dia dos meus anos”
A câmera era analógica
O filme velava pra memória falhar
Lá nos tempos longe de mim

Nos “tempos modernos”
nada mais se pode guardar
Tudo visto, exposto e... se a memória falhar...
taí o Facebook pra te lembrar

Quiçá esses tempos acabarão por
não mais te deixar
derivar
estranhar
misturar...

Resisto. Enfeito-me de instantes
e caço ipês
Ipês são instantes
banais
um dia explodem exuberantes.


FOTO A&A: Barragem do Paranoá. Brasília, agosto/2017

VERSOS CITADOS:

“vi as éguas da noite” do primeiro Poema da série Da noite de Hilda Hilst

“no tempo em que festejava o dia dos meus anos” do Poema Aniversário de Álvaro de Campos

“tempos modernos” do Lulu ao Chaplin


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